Ucrânia

'Nas relações internacionais, não há pena, há interesses. A paz é uma concessão do mais forte', diz Etchegoyen

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Ex-ministro no governo Temer e ex-comandante da 3ª Divisão de Exército de Santa Maria, o general Sérgio Etchegoyen fez uma análise interessante, à rádio CDN, da guerra na Ucrânia. Ele destacou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que inclui EUA e países europeus, começou a cercar a Rússia, colocando os russos sob ameaças, e que a Rússia revidou em forma de guerra para tentar restabelecer um status mais favorável a ela.

- A paz, o estado de harmonia, como a gente imagina, não é fruto da generosidade humana entre os países. É uma concessão do mais forte. Ele concede a paz nas condições que lhe convêm. A Europa estava submetida à paz que interessava à Otan e aos EUA. Não era a paz que interessava à Rússia e a Putin. Era uma paz que empurrava os meios da Otan em direção das fronteiras russas, numa ameaça permanente. Esse estado de paz, quando é desequilibrado, aparecem as disputas e os conflitos por um novo status, para reescrever a paz segundo as circunstâncias novas, e Putin tenta impor a paz que lhe interessa, que é uma paz com armas longe da fronteira dele, é uma paz com a Ucrânia submetida a ele política e militarmente, e é isso que eles estão fazendo. O Putin, pressionado pela Otan, adotou um ato de guerra, tem vidas sendo perdidas, isso é uma tragédia. Mas o objetivo da guerra é sempre a paz. Ninguém faz guerra para fazer guerra, faz uma guerra para modificar um status e reivindicar condições que lhe convenham. É isso o que o Putin está tentando, e quem sofre com isso é a população.

Etchegoyen cita que a instalação de mísseis russos em Cuba, que gerou a grave crise de 13 dias, em 1962, é um exemplo semelhante, em que os EUA se sentiram fortemente ameaçados e quase revidaram.

- Incomodaria a qualquer um. Imagina que começassem a colocar armas nucleares, mísseis e blindados na nossa fronteira. Isso não quer dizer que eu esteja justificando a ação de violência do Putin. Há dois fatores que dão liberdade ao Putin para recorrer à ação bélica e violência da guerra. O primeiro, para quem conhece o regime russo, é que o Putin não tem Ministério Público ou TCU para prestar contas, não tem Congresso vigilante, não tem Justiça independente, ele tem um poder muito forte. Vários opositores foram mortos. Ele leva com uma mão de ferro que nenhum líder das várias democracias ocidentais tem. As democracias ocidentais, para reagir ao Putin, vão ter de mobilizar a opinião pública, a imprensa, arrumar apoio no Congresso, modificar orçamentos e a população aceitar que invista-se em armamento do que em vacina e pesquisa. Não é um trabalho fácil nem rápido. A escolha da Rússia como adversário a ser combatido pela Otan, desde o início, fez com que, há duas semanas, o Putin e o Xi-Jinping, líder da China, assinassem um acordo de não agressão, o que deu a liberdade para o Putin fazer o que fez na Ucrânia e vai dar a liberdade para o Xi-Jinping acertar a conta dele com Formosa, Hong-Kong e o que mais precisar da antiga China - afirmou Etchegoyen.

O ex-ministro acredita que a China poderá invadir Hong Kong e Formosa em breve:

- O Ocidente já deu sinal de que não se preocupou com a Ucrânia. Não vai se preocupar com Formosa, ninguém vai comprar essa briga. Lamentavelmente, a gente pessoalmente fica penalizado, fica indignado, mas nas relações internacionais não existe nem pena, nem indignação. Nas relações internacionais existem interesses e conflitos de nações e de povos. E o choque desses interesses é que vai produzir mais ou menos conflitos. A forma de mediar esses conflitos vai gerar guerra ou negociação.

Guerra curta

Etchogoyen acredita que a guerra vai durar poucos dias e que Putin vai impor para que a Ucrânia volte a ser "independente", mas sua aliada.

- Não tem negociação. Ele vai impor a paz que ele quer. A Ucrânia já foi entregue. Putin vai trabalhar para o presidente (ucraniano) cair. Ele coloca um representante simpático à política russa. Ocupa militarmente para, alegadamente, dar proteção às duas repúblicas pequenas, que ele reconheceu, faz um acordo militar com a Ucrânia deixando tropa russa na Ucrânia, e retorna à política que já foi soviética de deixar um cinturão de países satélites, de segurança da Rússia.

O general acredita que Putin não vai invadir outros países, mas se for necessário, fará isso.

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